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sexta-feira, 16 de junho de 2017

Além da gramática


Pensei em escrever palavras
Regras me foram impostas
“Deves usar a norma culta”
“Oxe!”, pensei eu, “o que é isso?”
Com tal norma
Nem meus pais, nem avós me educaram.
Me ensinaram a praticidade do falar
Não a escrever uma carta para um doutor.
É bem verdade que a norma culta é importante
Mas para mim nunca será a única norma.
Não preciso de norma culta para falar de amor
Seu doutor.
Eu falo com propriedade
Mesmo sendo analfabeto
Conheço a dor no peito
Sei amar meus filhos
Conheço a dor da fome
E nunca ganhei diploma por sofrer.
Se eu soubesse escrever
Ah doutor, seria premiado no mundo
Viajaria num avião
Discursaria num microfone
Cantaria um poema decorado.
Minhas palavras seriam vivas
Exultariam meus sentimentos
Escreveria verdade escrita
Minha poesia seria

Meu testamento.

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