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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Conto: A tinta invisível de Hataro.





Escrito por: Blog Criativo Filmes.

Numa cidade congelada o dia durava seis meses e a noite era igualmente longa. Uma menina chamada Hataro Sasaki tinha o sonho de se tornar uma importante pintora.
Num certo dia ao passear com seu pai pela praça principal da cidade onde morava a menina percebeu que existiam muitos artistas, escultores e pintores espalhados pelas muitas ruas congeladas. Uma banquinha em especial chamou a atenção da menina, pois aquela artista pintava casacos dos habitantes da cidade para parecem mais bonitos e coloridos, a sua única exigência era que os casacos fossem brancos, para melhor destacar a tinta. Hataro ficou encantada e perguntou ao pai:
- Pai eu posso pintar casacos aqui na praça da cidade? - O pai da menina ficou surpreso e respondeu:
- Ora, tenho que falar com sua mãe primeiro, mas ainda assim temos que comprar material para pintura. Tem certeza que você sabe pintar?
- Claro que tenho pai! Eu treino todos os dias e além do mais eu já tenho uma tinta que não acaba e um pincel que eu criei. - Senhor Sasaki achou muito estranho a conversa da menina e não deu muita importância, pois achava que era coisa de criança. Chegando em casa a menina correu para a mãe dizendo:
- Mãe, mamãe o papai tem algo para falar para você! Diz pra ela pai, diz! -
- Ora acalme-se Hataro deixe-me a sós com sua mãe e eu conversarei com ela. - O pai da menina conversou com sua esposa sobre o assunto e para a surpresa do pai a mãe concordou com a pequena e disse que ela mesma levaria a criança para a praça para que pudesse vender suas pinturas.
Nas férias escolares a mãe levou a filha para a praça; O pai tinha construído uma banquinha móvel de vendas para a felicidade de sua filha. A menina não continha-se de ansiedade e preparou seu material de pintura o mais rápido possível. Ela pegou seu pequeno balde de plástico e seu pincel invisível. Quando ia saindo para a praça sua mãe perguntou:
- Hataro onde está seu material de pintura?
- Tá aqui mamãe!
- Eu só estou vendo um balde de plástico, cadê a tinta, cadê o pincel?! Por acaso isso é uma brincadeira Hataro Sasaki?!
- Acho que você precisa de um óculos mamãe, pois a tinta está dentro do balde e o pincel também.
A mãe da menina quase desiste ali mesmo de prosseguir para a praça, mas tinha a esperança de aquilo ser apenas uma brincadeira de sua filha e quis acreditar que todo material já estava dentro da banquinha móvel. Pouco tempo depois chegaram na praça a mãe lembrou de perguntar a garotinha:
- Escute Hataro, nós ainda não decidimos o preço das pinturas. Já que é você a artista você pode sugerir um valor.
- Obrigada mamãe, eu já havia pensado em um valor há muito tempo.
- E então quanto custará?
- Um sorriso!
- Como?!
- Um sorriso é o suficiente, mais de um seria muito caro.
- Sadako ninguém compra nada com sorriso, nós compramos as coisas com dinheiro.
- Mas minhas pinturas não são coisas mamãe, elas são especiais. E além do mais um sorriso é muito valioso. Eu só aceito um sorriso como recompensa.
A mãe da menina poderia ir embora ali mesmo, mas percebeu o quanto sua filhinha estava contente. Depois de pensar um pouco acabou resolvendo ficar e ver no que essa história ia dar.
- Muito bem garotinha poderá vender suas pinturas por um sorriso, mas eu ainda não entendo. Onde você colocou sua tinta?!
- Acredite em mim mamãe, minha tinta está no balde de plástico junto com meu pincel.
Tudo bem vou colocar a placa com o valor da pintura. - A mãe da menina confeccionou uma pequena placa com a ajuda da criança que dizia: " Fazemos pintura em casacos de todas as cores e materiais, valor: apenas um sorriso. Tragam seus casacos preferidos!"
Assim que colocaram a placa as pessoas que passavam na rua ficaram curiosas, pois o preço lhes parecia atraente já que para elas custava apenas um sorriso. O primeiro cliente era um senhor que estava passando na praça e resolveu ver se aquilo era realidade.
- Com licença senhora e senhorita. Não pude deixar de perceber a placa com os dizeres. Gostaria de experimentar a pintura. 
- Claro meu senhor, você trouxe seu casaco preferido? - Disse a pequena pintora.
- Ah sim, trouxe meu casaco para ocasiões especiais. Tome e faça uma bela pintura.
A mãe de Hataro não deixou de sentir-se constrangida, pois já estava imaginando a reação do homem quando percebesse que a menina não tinha tinta nenhuma. A criança estava muito contente e pegou seu balde de tinta e pincel e começou a pintar. Meia hora depois ela disse:
- Terminei, terminei! Minha primeira pintura profissional está terminada, veja senhor e diga o que achou.
- Ah claro deixe-me ver, certamente deve ser uma bela pintura. - O senhor observou seu casaco, e revirou-o de tudo que era jeito para encontrar alguma pintura. Ele não viu nada.
- Ora minha criança deve haver algum engano, não vejo nenhuma pintura meu casaco está como antes. Fui enganado!
- Não, tá aí é que a pintura só aparece em ocasiões especiais senhor.
- Ora, não me venha com essa história criança; Eu já devia ter imaginado! Onde já se viu pagar alguma coisa com apenas um sorriso?! Com licença, não me farão mais de trouxa!
Hataro não esperava aquela reação do homem, porém não se entristeceu e continuou acreditando nas suas pinturas sem tinta. Sua mãe, porém disse:
- Vamos embora Hataro sua brincadeira já foi muito longe. Não sei onde estava com a cabeça quando lhe trouxe aqui para vender pinturas invisíveis. 
- Não mamãe por favor, você precisa acreditar em mim as pinturas só podem ser vistas em ocasiões especiais, mas se você fizer um esforço você poderá enxergar assim como eu as enxergo.
Senhora Sasaki levou sua filha embora antes que alguém as chamassem de birutas. Hataro chorou por muitos dias e ficou muito triste. Sua avó percebeu que a pequena estava muito abatida e resolveu ajudá-la.
- Ei netinha, vamos! Largue essa tristeza e me ajude a levar um banquinho móvel para a praça principal.
Imediatamente Hataro alegrou-se e com a ajuda de sua avó continuou fazendo suas pinturas nos casacos dos moradores da cidade. Muita gente queria que seus casacos fossem pintados, mas quando a menina acabava ninguém lhe dava um sorriso, pelo contrário, só reclamava e diziam que estavam sendo enganados. Vovó Sasaki não enxergava as pinturas, mas pouco lhe importava se elas existiam de fato. Tudo que ela queria de sua netinha era que permanecesse sempre contente e feliz pintando com sua tinta invisível.
A polícia local recebeu muitas denúncias sobre uma banquinha irregular na praça e resolveu averiguar. Depois de investigar as muitas denúncias o xerife resolveu proibir o funcionamento da banquinha de Hataro, para a tristeza da menina e de sua avó. O xerife conversou com os pais de Hataro e disse-lhes o que estava acontecendo. O segredo da menina e da avó foi revelado. Os pais ficaram bravos com a pequena e com a vovó.  A vovó explicou que só queria a felicidade da menina e a menina explicou que só queria pintar.
- Ora minha filha se só quer pintar não há problemas eu comprarei tinta de verdade e telas para que você possa realmente pintar. - Disse o pai com a melhor das intenções.
- Mas papai, minha tinta é a melhor de todas ela nunca acaba.
- Sem "mas" Hataro. Você está de castigo. 
 A menina passou um bom tempo de castigo e só pôde sair no dia da "Grande Festa Anual da Lua" onde os seis meses de dia dariam lugar aos seis meses de noite. Todos os moradores da cidade saiam as ruas e iam a praça para verem o único por do sol do ano. Muitas pessoas estavam na praça incluindo o Pai, a mãe, a avó e a Hataro Sasaki.
Antes do sol se por os moradores faziam a tradicional contagem regressiva. todos gritavam em uníssono:
- Dez!
- Nove!
- Oito!
- Sete!
- Seis!
- Cinco!
- Quatro!
- Três!
- Dois!
- Ummmmmmmmm!
Neste momento o sol se apagou e centenas de casacos brilharam no escuro com lindas pinturas de uma criança. Os pais de Hataro e todas as pessoas ficaram impressionados com a beleza das pinturas e rapidamente se lembraram da forma que trataram a pequena. Todos os adultos daquela cidade prometeram nunca  mais duvidar de uma criança.
Centenas de anos depois, essa história ainda era popular naquela cidade. Hataro havia se tornado uma importante pintora, tanto que no local onde ficava sua casa uma estátua havia sido construída e todos que passavam pela estátua davam um largo sorriso em sinal de boa sorte. Na base da estátua havia os famosos dizeres da pintora:
 "A minha vida toda sempre usei uma tinta inesgotável e um pincel igualmente mágico que só podem ser fabricados por quem tem imaginação. Com imaginação até os adultos podem ser coloridos."

FIM