Era uma vez
um homem descontente com sua rotina seu nome era...eu não me lembro. Todo dia
ele acordava as 6:00 am, tomava café as 6:30 am, e saia para o trabalho as 7:00
am, ele trabalhava num departamento qualquer verificando diferentes tipos de
documentos e observando se existia alguma informação equívoca. Vivia mais tempo
sentado do que em pé, pescoço baixo, ombros baixos e coluna curvada.
Certo dia
acordou mais descontente com sua vida do que o usual, sua coluna estava doendo
e sua cabeça girando como se tivesse sido espancado por um trem, ou melhor,
atropelado. Acordou às 6:01 am, tomou café às 6:32 e saiu para trabalhar às
7:01 am, chegou no trabalho às 7:31 am, algo incomum visto que sempre está
presente antes de 7:30 am. Sua colega perguntou-lhe:
- Você está
se sentindo bem? - Ele prontamente respondeu:
- Sim é que
acordei com dor de cabeça e coluna.
- Eu tenho
remédio se quiser é só pedir. – Disse-lhe sorrindo.
E assim
terminou mais um dia na vida comum desse homem comum. Quando ele chegou em
casa, percebeu que a dor de cabeça havia triplicado e a dor na coluna
quadruplicado, olhou-se no espelho e a imagem que refletia mais parecia um
zumbi do que um homem de trinta anos independente. Eis que num momento de
clareza uma onda de energia cruzou seus neurônios e veio a sua mente algo tão
óbvio que só um homem profundamente metódico não poderia ter notado: Ele estava
se sentindo solitário. Destruído, foi dormir.
6:00, 6:30,
7:00 am. O homem já estava se sentindo bem melhor e estava disposto a mudar de
atitude, para isso chegou mais cedo no trabalho (7:20) e começou a conversar com
as pessoas que geralmente ignorava.
- Bom dia seu
Zé...como tem passado? – Falou para o porteiro do prédio.
- Bom dia. –
Respondeu o porteiro sem dar muita atenção a pergunta.
Talvez ele
simplesmente não tenha ouvido, pensou o solitário homem. Prosseguiu em sua
odisseia para esquecer a solidão que estava enfrentando. Chegou em sua mesa e
mal podia esperar para que sua colega de trabalho chegasse também. Ela chegou,
colocou sua bolsa ao lado do seu computador, deu bom dia e digitou alguma coisa
no computador. O rapaz não sabia exatamente como começar uma conversa, pois apesar
de ter a mesma colega durante três anos ele não sabia quase nada sobre os
interesses da moça. Desajeitado puxou assunto:
- Você chegou
cedo.
- Olha quem
fala. – Responde dando um risinho.
-... E então,
conseguiu despachar os documentos que ficaram faltando? – Ele falou num tom não
muito interessado apesar de tentar manter-se interessado.
- Consegui.
Após alguns
momentos de silêncio o homem sabiamente deduziu que não sabia se comunicar
direito com outro ser humano, sendo assim, resolveu ficar calado e permanecer
na solidão. Naquele dia ele parecia mais distraído algo muito raro de
acontecer, pois foi campeão estadual de xadrez com apenas 10 anos de idade e
todos os anos de trabalho nunca havia levado uma reclamação de seu chefe. Mas
algo havia roubado a sua atenção, algo lindo e brilhante, era o olhar reluzente
de Gabriela que tinha uma placa em sua mesa com seu nome escrito: “Gabriela Lisyndorf”
Em todos aqueles anos o protagonista nunca percebeu que as cores dos olhos de
Gabriela eram verdes e não azuis como acreditava ser desde o primeiro dia que a
viu. Ele já tinha um assunto:
- Então...são
olhos são verdes né?
Ela parou o
que estava fazendo e fez uma expressão confusa como se aquela voz não viesse do
seu colega desatento de trabalho, isso mesmo! Desatento, pois dependendo do
ponto de vista o personagem principal é desatento ao mundo externo. O homem era
tão concentrado que só reparava no seu trabalho e ignorava o mundo e as pessoas
ao seu redor e Gabriela o viam como desatento, porque não era difícil lhe falarem
algo e ele simplesmente ignorar. Teve até uma vez que ela falou do seu noivo e
como estava apaixonada, qual vestido escolheu a cobertura do bolo e tudo o
mais. Caso tivesse prestado atenção ele não passaria a vergonha a seguir:
- Sim, claro
que são. – Disse ela um tanto surpresa por achar que a resposta era óbvia
demais.
- É que
geralmente eu sou muito atento e percebi que seus olhos na verdade tem um tom
diferente de verde que de uma determinada perspectiva pode ser confundido com
azul.
Ela negou mentalmente
e achou aquela conversa totalmente sem propósito, mas como foi educada muito
bem pelos seus pais resolveu continuar a conversa mesmo que tivesse vários
documentos para verificar:
- Talvez você
seja daltônico. – Deu um sorriso forçado.
Ele também
forçou um riso como se Gabriela tivesse contado uma piada como a que se segue:
“Dois patos
cantando num rio, um casal de patos, a pata e um pato, o pato perguntou para a
pata se queria pegar um cineminha, a pata educadamente respondeu: “Mas patos
não podem frequentar cinema”, e o pato respondeu: “Surpresa, na verdade eu sou
um humano que se disfarçou de pato para poder lhe caçar e meu objetivo deu
certo visto que eu capturei você! Agora vou para o cinema sozinho. ”
Exatamente o
que o leitor está pensado, isso não faz nenhum sentido, logo, não faz sentido o
rapaz rir de algo que não deveria rir. Se o leitor não entendeu a metáfora eu
só lamento. Continuando:
Ele negou que
fosse daltônico e ficaram numa conversa penosa e chata durante alguns momentos
como quando seu amigo lhe apresenta um outro amigo que você não conhecia e lhe
deixa sozinho com ele por alguns instantes e a conversa alterna entre você
tentando se comunicar com um ser estranho e momentos de silêncios
constrangedores, entende? Assim discorreu a conversa até o rapaz ter coragem de
dizer o que estava tomando fôlego para dizer:
- Então
Gabriela, a moça dos olhos verdes, eu estive pensando se você teria algo mais
importante para fazer depois do trabalho.
- Ah, tenho
sim, meu noivo e eu vamos tirar as fotos de noivado antes do casamento na praia,
eu acho cafona, mas é uma tradição da família dele. Por quê a pergunta?
Espero que
você tenha entendido o que aconteceu caro leitor, na verdade, o rapaz solitário
que é protagonista desta história estava paquerando Gabriela e a seguir iria
convidar a bela moça para ir ao cinema. Esqueceu apenas de lembrar que ela era
quase casada com um empresário bonitão de um metro e oitenta de olhos azuis e
que cheirava a perfume caro francês, além de ter um carro porshe 911 turbo s ou
um modelo parecido. Não que Gabriela fosse interesseira ela era realmente apaixonada
por seu noivo, mas a recíproca não era verdadeira, o empresário queria apenas
casar com a linda dama para estreitar as relações comerciais com o pai da
noiva, mal sabia que no futuro o empresário bonitão se revelaria um frio
psicopata movido a dinheiro e largaria a linda e ainda apaixonada Gabriela. Mas
isso é uma outra história, essa estória é sobre um cara que se vestia de
elefante. Continuando:
- Por nada é
que eu poderia ajudar com esses documentos excedentes. – Responde o rapaz
desviando o diálogo da sua intenção inicial de convidá-la para o cinema.
- Você faria
isso mesmo? – Responde Gabriela mais surpresa ainda.
- Claro,
afinal casamento é uma parte muito importante da vida.
- Eu
agradeço, mas acho que o chefe não ia concordar com isso. Me pergunto se ele
algum dia teve coração. – Fala olhando em direção a longínqua e sombria sala do
chefe.
Continua...