O CÉTICO E O CRENTE
Escrito por: Blog Criativo Filme
Num dia chuvoso o crente chega de
trem à cidade onde morava o cético. O cético esperava o crente com um largo
sorriso no rosto e ao reencontrá-lo deu-lhe um abraço apertado dizendo:
- Meu caro, há quanto tempo não nos
víamos. De fato o acaso nos pregou peças não é mesmo?
- Não o acaso, nossos caminhos foram
traçados pelas nossas escolhas. Esse é o grande peso do livre arbítrio.
- Vejo que ainda crê nesses conceitos
não é? Sempre tentando explicar de forma espiritual o que ainda não pode ser
explicado. Sempre tentando enxergar além do que os seus olhos podem ver ou que
sua mente pode provar.
- De fato, velho amigo, sempre tento
enxergar o que a razão humana não concebe. Se eu acreditasse somente naquilo
que enxergo certamente deixaria de crer.
- Esse é o peso da razão é um alto
preço que nós estudiosos pagamos por conhecer. Quanto mais estudo mais distante
do sobrenatural eu fico. Acredito que o conhecimento me liberta da fraqueza que
é a fé.
- O que é fé para você neste caso?
- Ora, a fé é apenas um sentimento
que surge no desespero. É um sentimento que se nutre através do medo da morte.
Através da fé o homem tenta esconder a certeza de que no fim da vida não há
nada.
- O nada não seria alguma coisa?
- Não o entendo. O nada é nada. O
nada é o que não há. Simples, o nada é o fim. O que alguma vez existiu deixa de
existir e vira nada.
- Antes de tudo existir o que existia?
- Nada.
- Mas se tudo veio do nada como do
nada poderia existir tudo?
- Um grande choque, uma grande
explosão. Você conhece tão bem quanto eu a origem do Universo. Eu lembro de ter
lhe ensinado bem.
- Eu conheço somente as teorias, mas
se ouve uma grande explosão...
- Sei onde quer chegar, todos os
argumentos chegam neste clichê: “O que causou a grande explosão?” Bem lhe
adianto dizendo que não existe quem, mas o que causou a grande explosão e minha
última resposta sobre o que causou a grande explosão foi nada mais do que o acaso. É simples, num momento antes do tempo existiram condições que
propiciaram uma grande expansão há calculados mais de 13 bilhões de anos atrás.
Aconteceu, bang! E assim tudo que sabemos e o que ainda não conhecemos
existiram e existem não é preciso Deus.
- Como explicar o nada sem admitir a
existência de um Deus? Tudo ainda seria nada. É necessário que haja algo para
existir tudo e esse algo pode ser explicado por Deus.
- Esse algo é cálculo não um conceito
humano. Conceitos só viram realidade quando são devidamente provados. Como podes provar-me que Deus existe?
- Porque você existe. Se Deus não
existisse você não existiria.
- Seu argumento pode ser facilmente
debatido, pois eu não existia antes de nascer. E todo ser humano é apenas fruto
de uma evolução. Antes dos homens não existia o conceito de Deus ou de Deuses. Na
época dos dinossauros, por exemplo, não existia catolicismo, protestantismo,
budismo, judaísmo. Tanto deuses como Deus são apenas invenções humanas criadas
para entender a realidade de forma distorcida e irreal.
- O que é a realidade para você?
- Aquilo que eu vejo, toco ou provo
cientificamente.
- Entendo. Sendo assim suponhamos que
você não seja cientista seja apenas uma pessoa qualquer que nunca teve a
oportunidade de estudar. O que seria a realidade para você?
- Bom, são informações muito vagas,
porém nesse caso acredito que a minha realidade seria o que sinto, vejo ou
toco. Ou seja, seria mágica. Provavelmente recorreria ao sobrenatural para
explicar o que para mim não seria explicável.
- Ainda neste papel de uma pessoa sem
conhecimentos científicos, gostaria que você me explicasse o azul do céu. Isso
mesmo. Suponha que seu filho lhe pergunte: “Pai por que o céu é azul?” O que
diria ao seu filho?
- Não sei.
- O “não sei” é para minha resposta
ou para o seu filho.
- Para o meu filho. Aonde quer
chegar?
- Continue no papel. Papai por que
morremos?
- Essa é a ordem natural das coisas
meu filho. Tudo é energia que será transformada. É preciso que haja morte para
que outros vivam.
- Essa foi uma resposta bem
científica.
- Ora, não seria justo entrar em um
papel que não domino eu não posso fugir de minha razão!
- Muito bem seja o cientista agora.
Pai por que você não acredita em Deus?
- Por que sua mãe e tio morreram de
câncer, sua avó de depressão e seu avô tornou-se um alcoólatra. E o que me
salvou da loucura foram os estudos, foi o meu esforço, eu me salvei sem
recorrer ao fantástico!
- Pai, sabe por que eu sou Padre?
- Realmente não sei e também nunca
entendi por que não seguiu a carreira científica.
- Por que eu o senti.
- Não entendo.
- Quando a mamãe estava morrendo eu
parei de rezar e prometi a mim mesmo que nunca mais frequentaria uma missa e
muito menos que seria padre. Eu prometi que nunca mais creria em Deus. Naqueles
tristes momentos, para mim, Deus havia deixado de existir. Pai na noite que
mamãe morreu, lembra?
- Nunca esqueci meu filho.
- Naquela noite, num dia chuvoso como
este. Mamãe sentia uma dor inimaginável estava morrendo na minha frente. Não
tinha ninguém quem eu pudesse chamar para ajudá-la não tínhamos mais remédios
para dor. Nos seus últimos momentos ela sorriu me beijou e me disse com muita
dificuldade:
- Meu filho, eu te amo.
- Naquele dia pai, eu presenciei o
amor verdadeiro. Um amor tão grande como o de uma mãe para um filho não nasceria
do nada.
FIM