Numa cidade perto de lugar nenhum havia uma
pessoa cujo nome não se pode pronunciar. Essa pessoa vivia sozinha e esquecida
no meio do nada, nunca teve filhos, não sabia o que era o amor e não conhecia o
sabor doce da comida de quem se ama. Era
alguém amargurado com a vida e que não tinha grandes expectativas para o
futuro. Era escritor de histórias
fantasiosas, mas sequer sabia escrever.
Num belo dia encontrou uma moça num
bosque perto de nenhum lugar, achou-a bela. A moça estava sentada perto de um
lago e tocava a água com seus dedos delicados, parecia admirar seu reflexo. O
homem que não tinha nome aproximou-se e tentou ter algum tipo de contato com a
moça. A moça o olhou. Disse:
- O que você está fazendo aí de pé?
– Perguntou um tanto assustada para o homem. Ele sorriu e respondeu:
- Apenas admirando as belezas desta
vida. Você é uma delas, por sinal.
- Obrigada, mas preciso ir agora.
- Perdoe-me, meu nome é Paulo. Não
queria assustá-la de nenhuma forma, eu moro aqui perto e tenho o hábito de
caminhar por este bosque todas as manhãs. Perdoe meus modos também. É que
dificilmente vejo alguém neste bosque tão cedo.
A moça que parecia triste mudou seu
semblante de preocupação e levantou-se olhando nos olhos de Paulo. Observou o
homem por algum momento e disse-lhe:
- Obrigada pelo elogio, tenho
precisado ultimamente de algum elogio. Bem, eu precisava espairecer um pouco,
ultimamente tenho andado com a cabeça cheia. Achei que este bosque era um bom
lugar para isso.
- Sei bem do que está falando, esse
é um dos motivos de eu andar por aqui todas as manhãs. Não pude deixar de notar
sua tristeza. Não combina uma moça tão bela andar tão triste por aí. Posso
ajudá-la?
- Não acredito que você possa, mas
obrigada por tentar. Devo ir. Paulo, não é mesmo?
- Sim, Paulo Meneses. Escute, você
tem algum compromisso no sábado?
- Não.
- Poderia convidá-la para um café?
- Poderia.
- Gostaria de tomar algum café
comigo no sábado?
- Não.
- Não? Mas disse que eu poderia
convidá-la.
- Sei o que eu disse, desculpe-me
não posso aceitar um convite a um café com um estranho.
- Nesse caso você também é uma
estranha para mim.
- Sou é?
- É, todo dia eu venho nesse bosque
na mesma hora essa é minha rotina. Em três anos nunca vi ninguém a essa hora
por aqui.
- Você realmente não sabe quem eu
sou?
- Bem, na verdade já vi você
andando perto da minha casa.
- E você não me conhecia?
- Bem, eu sabia que seu nome era
Paulo. O Meneses é novidade. Você quem começou com esse negócio de “estranha.”
Deu a entender que você nunca tinha me visto.
- Eu não costumo dizer pra uma
“estranha” que ela é bonita.
- Mas de certa forma nós não nos
conhecemos. Apenas vi você por aí algumas vezes.
- Você tinha alguma impressão de
mim?
O homem sentou-se na beira do lago
e tinha a esperança que a moça, não tão estranha assim, sentasse ao seu lado.
Ele queria continuar aquela conversa, queria conhecer melhor aquela bela garota
de quem só “conhecia de vista”. A moça felizmente sentou-se dizendo:
- Creio que não tinha muitas
impressões a seu respeito. É verdade que eu conheço o seu rosto, mas não sei
muito sobre você. É muito misterioso.
- Poxa, isso já é alguma coisa. Por
que me acha misterioso?
- Não sei, vive sozinho naquela
casa, parece que não tem nenhuma esposa, filhos, família. Não vejo você nas
festas com os outros jovens, não vejo você com garotas. Posso te perguntar algo?
- Pode sim. – Responde sorrindo.
- Qual sua idade, Paulo?
- Tenho 27 anos.
- O que você faz da vida?
- Bem, eu tento escrever histórias.
- Histórias sobre o que?
- Não sei ao certo, histórias sobre
qualquer coisa.
- Como você consegue sobreviver
escrevendo?
- Além de escrever eu tenho uma
loja de roupas esportivas.
- Você é um empresário?
- Não gosto dessa palavra, a loja
era do meu pai. Eu herdei.
- Então você é um filhinho de
papai?
- Não, eu apenas herdei a loja. Realmente
não tenho nenhum esforço para mantê-la, apenas sobrevivo com os lucros. Meu
irmão cuida da parte administrativa. Pensando melhor sou um vagabundo.
- Interessante como as pessoas têm
uma história de vida tão particular.
- É mesmo, e você quem é além de
uma moça bonita?
- Pietra, 25 anos, formada em
cinema. Infelizmente ainda moro com minha mãe. Não que eu não goste da minha
mãe, mas eu queria morar sozinha, ter uma casa. Viajar o mundo sabe lá. Já
estou velha.
- Velha? – Questiona Paulo
sorrindo.
- É.
- Legal, eu adoro filmes. Você não
tem algum sonho do tipo dirigir algum filme?
- Sim, já fiz alguns curtas e
ganhei um prêmio.
- Qual prêmio?
- Um prêmio Estadual de cinema amador.
- Muito bom. Você não quer passear comigo
um dia desses?
- Não.
- Não?!
- Isso mesmo.
O rapaz decepcionado foi embora. Uma
semana depois conheceu outra bela mulher, pela qual se apaixonou e futuramente se
casou. Teve dois filhos que se chamavam Bernardo e Felipe. A moça
do bosque uma semana depois foi diagnosticada com cancro no cérebro e após longos
quatro anos lutou contra a doença e ficou curada. O rapaz tomou conhecimento da
história de luta da moça e escreveu um livro. A moça adaptou e dirigiu um filme
sobre sua própria vida. Foi um sucesso absoluto.