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sábado, 14 de fevereiro de 2015

Conto: "A herança do pescador."



 






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Um homem muito velho vivia numa casa bem perto de um lago. Nunca teve filhos, esposa, e quem pudesse dividir os medos, as alegrias e as desventuras da vida. Na verdade as pessoas passavam em sua vida como passa uma folha seca sendo levada pelo vento. Era conhecido por velho ranzinza pelos pescadores do lago.
Certo dia um homem pescava tarde da noite no lago azulado, ele já estava no meio do rio quando escutou um barulho interessante como o de uma torneira sendo utilizada. Chovia chuva encharcada e escorria as gotas sobre sua roupa humilde de pescador. O barco deste homem estava velho e já não podia mais conter a água. O barco estava afundando.
O velho ranzinza já ia dormir quando escutou o grito de um homem dizendo que iria morrer e que não sabia nadar. O barulho vinha do lago. O velho olhou pela janela e percebeu que lá fora um homem gritava em desespero por ajuda. O velho tinha um barco e pensou que poderia ajudar o estranho.
Lá fora na chuva o homem percebia a água do lago encharcar os seus pés. Gritou com toda sua força para o velho ranzinza dizendo que se o salvasse ele seria um eterno empregado do velho.  A água subia depressa e o pobre desesperado começou a remar, mas estava muito longe da margem do rio e a água o encharcava mais e mais.
O velho temia que não desse tempo, temia a chuva, o frio e o escuro lá fora. Imaginou-se naquele barco e pensou no que estava sentindo o homem. E resolveu pegar rapidamente seu velho barco. Mas logo percebeu que tinha se desfeito dele há muito tempo.
O homem clamava por socorro dizendo que tinha três meninos e duas meninas e se ele morresse não teria quem os amparasse neste mundo. Falou rapidamente do desejo que tinha em ver seus filhos crescerem e a vontade de morrer velho com todos os filhos empregados.
O velho apesar de ranzinza sentiu-se tocado, mas não podia ajudá-lo, pois não tinha forças para nadar. E assim sendo resolveu pelo menos confortar o pobre pescador dizendo que não se preocupasse, pois logo estaria num lugar melhor.
O homem apesar do desespero que estava sentindo diante da morte iminente agradeceu o velho e pediu-lhe para que entregasse um bilhete para as crianças.  
Na manhã seguinte o velho ordenou que buscassem o corpo do pescador e que lhe desse o que tinha no bolso esquerdo. O velho então pegou o objeto e mais tarde foi entregar as crianças. Disse que não era muito, mas a única coisa que seu pai podia deixar. Era apenas um anzol enferrujado com um bilhete úmido enfiado com os dizeres trêmulos: “João o pote de farinha da janta, tá escondido no quintal.”
            Não se sabe ao certo qual foi o destino das crianças órfãs e nem do velho, mas o que se sabe é que a maior herança que o pescador deixou foi seu amor pelos filhos. Essa herança não pode ser trocada nem por quilos de diamante.