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Um
homem muito velho vivia numa casa bem perto de um lago. Nunca teve filhos,
esposa, e quem pudesse dividir os medos, as alegrias e as desventuras da vida.
Na verdade as pessoas passavam em sua vida como passa uma folha seca sendo
levada pelo vento. Era conhecido por velho ranzinza pelos pescadores do lago.
Certo
dia um homem pescava tarde da noite no lago azulado, ele já estava no meio do
rio quando escutou um barulho interessante como o de uma torneira sendo
utilizada. Chovia chuva encharcada e escorria as gotas sobre sua roupa humilde
de pescador. O barco deste homem estava velho e já não podia mais conter a água.
O barco estava afundando.
O
velho ranzinza já ia dormir quando escutou o grito de um homem dizendo que iria
morrer e que não sabia nadar. O barulho vinha do lago. O velho olhou pela
janela e percebeu que lá fora um homem gritava em desespero por ajuda. O velho
tinha um barco e pensou que poderia ajudar o estranho.
Lá
fora na chuva o homem percebia a água do lago encharcar os seus pés. Gritou com
toda sua força para o velho ranzinza dizendo que se o salvasse ele seria um eterno
empregado do velho. A água subia
depressa e o pobre desesperado começou a remar, mas estava muito longe da
margem do rio e a água o encharcava mais e mais.
O
velho temia que não desse tempo, temia a chuva, o frio e o escuro lá fora. Imaginou-se
naquele barco e pensou no que estava sentindo o homem. E resolveu pegar
rapidamente seu velho barco. Mas logo percebeu que tinha se desfeito dele há
muito tempo.
O
homem clamava por socorro dizendo que tinha três meninos e duas meninas e se
ele morresse não teria quem os amparasse neste mundo. Falou rapidamente do
desejo que tinha em ver seus filhos crescerem e a vontade de morrer velho com
todos os filhos empregados.
O
velho apesar de ranzinza sentiu-se tocado, mas não podia ajudá-lo, pois não tinha
forças para nadar. E assim sendo resolveu pelo menos confortar o pobre pescador
dizendo que não se preocupasse, pois logo estaria num lugar melhor.
O
homem apesar do desespero que estava sentindo diante da morte iminente agradeceu
o velho e pediu-lhe para que entregasse um bilhete para as crianças.
Na
manhã seguinte o velho ordenou que buscassem o corpo do pescador e que lhe
desse o que tinha no bolso esquerdo. O velho então pegou o objeto e mais tarde foi
entregar as crianças. Disse que não era muito, mas a única coisa que seu pai podia
deixar. Era apenas um anzol enferrujado com um bilhete úmido enfiado com os
dizeres trêmulos: “João o pote de farinha da janta, tá escondido no quintal.”
Não se sabe ao certo qual foi o destino das crianças órfãs e nem do velho, mas o que se sabe é que a maior herança que o pescador deixou foi seu amor pelos filhos. Essa herança não pode ser trocada nem por quilos de diamante.
Não se sabe ao certo qual foi o destino das crianças órfãs e nem do velho, mas o que se sabe é que a maior herança que o pescador deixou foi seu amor pelos filhos. Essa herança não pode ser trocada nem por quilos de diamante.