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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Uma empresa inesperada




Ihugs
Daniel Victor
Numa rica metrópole vivia um milionário do ramo de tecnologia. Conhecido pela excelência de seus produtos bem como os seus valores exorbitantes. Seu nome era Estevão Jorge, vestia sempre a mesma roupa para causar impacto.
Num belo dia sua empresa faliu, pois uma crise financeira eclodiu no mundo. As pessoas antes preocupadas com os produtos "Idolar" não sabiam se semana que vem teriam feijão para colocar no arroz. Jorginho ficou desolado, antes gabava-se, pois era um líder de uma multinacional agora não é respeitado nem por seu cachorro Bily.
Com o passar dos anos a crise foi se apagando, mas as sequelas para Estevão foram irreversíveis, sua namorada bonitona trocou-o por seu rival Bento Greyson. Sua mansão atolada em dívidas foi tomada pelo governo forçando Estevão Jorge a morar debaixo da ponte. Até Bily preferiu viver uma vida boa ao lado da namorada bonitona.
Jorge, empreendedor até na miséria, arranjou um modo peculiar de conseguir uns trocados: vendia cobertores personalizados para outros moradores de rua (vulgo mendigos). Enquanto seus vizinhos de rua iam pedir esmola pela manhã, nosso homem de visão preparava jornais com notícias personalizadas para vender quando todos chegassem.
O pedaço de jornal ou “Ijournal” (como preferia chamar) mais vendido por Estevão era aquele que vinha com a previsão do tempo incluso. Alguns reclamavam quando a previsão errava, porém o hábil empreendedor afirmava que não respondia pelo pessoal técnico. Ousou até mesmo criar um sistema de assinatura semanal, na qual, os mendigos pagavam um real para terem direito a escolha ilimitada de modelos de Ijournals.
Estevão Jorge conseguiu evoluir nos negócios. Montou uma empresa de flanelinhas, depois contratou passeadores de cães, pipoqueiros, abriu um restaurante, vendeu o restaurante e abriu uma empresa de tecnologia pela internet que foi comprada por milhões, com o dinheiro fundou uma empresa especializada em viagens espaciais para turistas e comprou mais cinco outras empresas multinacionais e tornou-se novamente o homem mais rico do mundo.
Alô Jorginho? - Diz uma voz doce e aveludada do outro lado da linha.
Quem é? - Responde Estevão Jorge.
Sou eu, Susu! Que saudades de você - Revela a ex-namorada bonitona.
Suelem?! - Responde pasmo.
Sim tchu tchuco, sou eu!
Onde você está o que tem feito? - Pergunta o tolo Estevão.
Ultimamente pensando em você.
Estevão acabou caindo na lábia da bonitona e reatou seu namoro com ela. Deu alguns colares de diamantes, alguns carros e até uma ilha particular para sua amada. Algo que durou em torno de um mês até Estevão Jorge ter perdido o posto de homem mais rico do mundo para um Chinês do ramo de macarrão. Bily que já estava quase “best friend forever” de Jorginho deu-lhe uma mordida no calcanhar e foi embora serelepe com sua dona interesseira.
Estevão Jorge podia ter um talento prodigioso para os negócios, mas para administrar suas relações afetivas era um desastre completo.
Com a tristeza de mais uma traição Jorginho entrou em depressão o que afetou profundamente os negócios. Mais uma vez perdera tudo que tinha e voltou para a rua, na mesma ponte onde morou a primeira vez.
Estevão Jorge já não reagia ao mundo. Com o coração dilacerado não tinha muita força para continuar. Mas um milagre aconteceu. Uma velinha mendiga chamada Rosinha aproximou-se de Jorge.
Bom dia meu filho. - Diz a simpática velhinha.
E o que tem de bom? - Retruca Estevão.
Uau, você está péssimo. Parece até um mendigo. - Brinca Rosinha. Porém Estevão não esboça nenhuma reação.
Sem muito o que fazer a velhinha deu-lhe um breve abraço e saiu. A partir daquele dia Estevão Jorge percebeu que existia algo que não podia ser comprado, algo que qualquer criança sabe, mas que a ganância de sua vida não deixou que ele enxergasse.
Tão óbvio, tão clichê. O amor nunca pôde ser comprado pelo homem mais rico do mundo, porque o amor não vale nada. O amor nasce da gratuidade de um coração qualquer, não espera nada em troca ele simplesmente é. É algo que sempre existiu.
Na sua última ideia (e a mais boba) Estevão Jorge o ex renomado milionário e atual mendigo fundou a "Ihugs", uma companhia sem fins lucrativos que como o nome sugere distribui abraços gratuitamente.
O início deste novo projeto não poderia ser pior. Como não tinha muito recurso Estevão escreveu com carvão num papelão: “Ihugs: abraços grátis aqui!”, porém o seu fedor espantava os possíveis clientes e durante semanas foi na praça com o papelão ao seu lado na esperança que alguém o abraçasse. Ninguém veio.
Passados alguns meses Estevão Jorge estava muito doente quando um cachorro aproximou-se, olhou desconfiado, cheirou a placa. Num ato surpreendente Estevão ofereceu-lhe um abraço e lentamente o cachorro se aproximou aceitando o carinho do doce mendigo.
Pouco tempo depois Estevão Jorge morreu. Morreu triste, pois não era esse o final que esperava de sua história, porém lá no fundo de sua alma sentia alívio de não morrer como milionário e ter que aguentar uma multidão de urubus esperando para devorar sua herança. No fim das contas foi a morte mais digna que poderia ter.
Por acaso, no dia em que Jorge abraçou um cachorro um fotógrafo de fama internacional passava na mesma praça. Imediatamente sacou sua câmera de última geração, escolheu o melhor ângulo e tirou a foto da sua vida. O resultado foi tão impactante que ganhou todos os prêmios que um fotografo era capaz, além de sua fotografia ser considerada uma das mais impactantes da história.
A fotografia transformou a vida do fotografo que passou a dedicar sua vida a ONG “Ihugs” que busca oferecer suporte, moradia, alimentação e amor aos moradores de rua de todo o mundo.
Seu lema é: “Ihugs, porque o amor não vale nada.”