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sexta-feira, 19 de maio de 2017

LOGAN, a análise atrasada (CONTÉM SPOILER)



Após algum tempo sem postar nenhuma crítica ou como eu prefiro chamar, análise de filmes, trago atrasadamente um singelo texto sobre o último filme do herói (ou talvez nem tanto) Wolverine vivido pelo “o gente boa” Hugh Jackman. E tal como os muitos entendidos ou não entendidos de filmes, eu gostei bastante. Todo mundo que se interessou em assistir, já sabe um pouco da sinopse do filme, então, pularei essa parte para não ficar entediante demais.
Logan, é um filme com foco nos personagens, pois não se preocupa em explicar com riqueza de detalhes o que está tornando o mundo cada vez mais decadente. É um filme diferente dos bem-sucedidos vingadores, pois ele não faz questão de ter muita relação com a franquia X-man ou os filmes anteriores do Wolverine. Ganha assim uma maior liberdade para explorar as “particularidades humanas” dos heróis e faz isso com maestria.



O tom do filme não é daquele tipo que você levaria sua namorada para assistir de mãos dadas, pelo contrário, tudo é muito denso, doloroso e sofrido. Os pequenos momentos felizes são tão breves e tem mais a função de alívios cômicos para deixar o calejado telespectador respirar um pouco. E sim, os diálogos cômicos são muito engraçados e nenhum pouco forçados.
As atuações do trio familiar: Professor Xavier (Patrick Stewart), X-23 (Dafne Keen) e do protagonista são mais do que convincentes. É perceptível que o roteiro ajuda muito na construção da atuação dos artistas e tenho certeza que a motivação para interpretar recebeu um gás. Abaixo minhas impressões sobre cada ator:



- Hugh Jackman: Infelizmente não acompanho muito o trabalho do ator, mas creio que esse tenha sido um dos papeis mais importantes para ele. O jeito de andar, o ódio de um homem em decadência no olhar e a atuação brutal é prova do maior comprometimento do ator com o filme. Em algumas entrevistas o ator falou que acordou no meio da noite com uma ideia para o personagem e apresentou ao diretor James Mangold e mais algumas pessoas. A ideia foi desenvolvida e o filme foi lançado posteriormente. Ele deu o seu melhor em cena, entrega física e psicológica que para um leigo como eu só posso imaginar o quão difícil é atingir resultados tão intensos em cena.



- Patrick Stewart: Um ator já consagrado, mas ainda assim continua trabalhando duro com seus 76 anos de vida e ainda surpreendendo com sua aula de atuação. O olhar perdido de quem possui uma doença mental, a voz meio fraca e rouca, a aparência abatida e frágil de um homem que já está no fim de sua vida. Um grande personagem nos quadrinhos não poderia ser interpretado de forma tão sincera quanto pelo Patrick Stewart.



- Dafne Keen: Não há muito o que dizer de uma criança de 12 anos que atua com expressões e olhares. É muito difícil dizer o que ela fará quando for adulta, mas eu espero que o talento dela vá além da loucura de holywood e que ela possa viver o melhor da infância e ainda assim ter um futuro promissor como atriz. A Dafne com certeza foi um achado e tanto pelos realizadores do filme e pasmem, até onde eu pesquisei este é apenas seu segundo filme.

SOBRE AS CRÍTICAS E PROBLEMAS


As mortes do filme foram compreensíveis e não atoa pelo menos na minha opinião. A do próprio Logan de certa forma já era imaginada, pois esse era o encerramento de um ciclo e morrer como um herói é uma morte digna para o Wolverine.
Alguns criticam o fato da aparição de um clone do Logan, por acharem fora de contexto ou que não foi uma ideia tão boa. Eu de nenhuma forma me incomodei, pois não foi uma aparição gratuita. O filme foi soltando pequenas pistas ao longo de seu desenrolar que justificou bem o uso do X-24. De certa forma seu uso pode ser interpretado como uma metáfora, pois durante o filme o maior inimigo do Logan era ele mesmo. Como um ato simbólico Logan morre como herói enfrentando um vilão que é a sua cópia. E eu gostei bastante das cenas e a importância atribuída ao vilão inesperado.



Sobre a morte do Professor Xavier, ela é compreensível para enriquecer o filme e lhe acrescentar dramaticidade. O roteiro vinha demonstrando que o mutante era uma bomba viva e sua morte foi a última punhalada no coração despedaçado de Wolverine. Foi muito bem construída toda a cena e mais impactante ainda, pois Xavier havia se lembrado o que fez na sua mansão o que para alguém que dedicou a vida para salvar mutantes fazer algum mal para eles parecia inconcebível. Uma morte injusta e até revoltante o que lembra muito a nossa vida. Mas o professor Xavier com certeza tem muito crédito, pois o seu coração era mais poderoso do que sua mente.
Caliban teve um papel relevante na história e apesar de não ter tanta explicação sobre sua trajetória até se unir a Logan o filme justificou muito bem a sua presença, ou seja, fez muito sentido e o personagem colaborou com o desenvolvimento da história.



É evidente que o filme possui pequenos problemas ou algo a se apontar, assim como tudo nesta vida, uma pequena coisa que me incomodou foi a cena do trem, admito ter pensado ser muito clichê. Aquela típica cena que o mocinho foge, porque um trem separa o vilão dele. Lembro de ter pensado “Poxa, os carniceiros bem que poderiam atirar por mais que o trem estivesse veloz”, ou simplesmente jogar uma granada por cima numa trajetória de parábola (haha!), teve até uma breve encarada do Logan. Mas isso é muito pequeno e só um mero detalhe que não faz nenhuma diferença.



Outra cena que alguns ficaram incomodados é com relação a encarada do X-24 e Wolverine, teoricamente o clone deveria ter atacado, mas o Logan simplesmente não reagiu e ele já tinha cumprido seu objetivo que era capturar a menina ou talvez tenha sido uma reação instintiva, pois Logan tinha sua mesma aparência. Outros reclamam pelo assassinato de Xavier, mas apesar de injusto tem uma coerência na ideia corrompida dos caras maus: O Xavier poderia ser a maior ameaça, bastasse liberar seus poderes da sua mente adoecida como já tinha feito anteriormente no hotel. Para evitar risco ele foi eliminado. Ou seja, criticar e achar problemas é muito mais fácil do que fazer um filme tão bom quanto Logan.
Logan, sem dúvidas é um filme maduro e para adultos que tem em geral uma visão pessimista sobre a vida, não é para todo tipo de pessoa, não é um filme família e nem um filme que um padre recomendaria. Porém tem momentos felizes sobre a importância da família, Logan apesar de bastante adoecido fisicamente e psicologicamente não desistia de seu “pai” que o insultava e no fim tornou-se o herói que sua “filha” esperava. O final do filme dá esperança aquelas crianças, X-23 tombando a cruz do túmulo de Logan revela um X de X-man e assim também é a nossa vida, muitas vezes a cruz é pesada e o mundo nos deixa destroçados por dentro, cabe a nós escolher quem queremos ser neste mundo: aquele que persegue os inocentes e causa o mal ou aquele que mesmo fraco luta para salvar os bons.



quarta-feira, 17 de maio de 2017

Minha primeira animação

            Esta obra de arte foi produzida utilizando o Adobe Ilustrator, Potoshop e Sony Vegas. Repare nas metáforas implícitas que compõem a animação. Trabalho digno de um verdadeiro artista.


domingo, 14 de maio de 2017

Por que você deveria escrever mais?



Venho por meio desta postagem incentivar a escrita a quem quer que você seja. Não importa quem você é ou qual sua profissão, apenas comece a escrever. Eu poderia abordar essa temática de inúmeras formas, porém vou escrever um texto pouco roteirizado ou planejado, será algo mais pessoal e com base nas minhas experiências com a escrita. Pode até soar egocêntrico, mas tenho que focar muito em mim mesmo. Espero lhe ajudar de alguma forma e que você leia tudo.
Eu comecei a escrever muito cedo. Meu primeiro contato com a escrita aconteceu na minha escola, provavelmente na antiga “primeira série” (hoje nomeado primeiro ano, creio eu) tratava-se de uma atividade de produção textual. Eu não me lembro se eu havia produzido algo semelhante num momento anterior. Tenho essa memória como sendo meu primeiro contato com a escrita.




A atividade baseava-se em criar uma fábula e eu não me lembro muito mais que isso. Lembro-me de alguns fragmentos da história e talvez meus colegas de turma não tenham sido tão receptivos quanto eu em relação a atividade. Resumindo: eu fiz a atividade e a professora leu algumas histórias, apesar de não mais saber o critério utilizado para a seleção delas. A maioria das histórias eram breves, com poucas linhas ou parágrafos, menos a minha que tinha duas páginas completas (o que para mim era uma infinidade de palavras). A professora leu minha história e só eu e ela prestamos atenção, creio ter ficado um pouco decepcionado em ver minha “obra literária” tão desvalorizada.
Muita coisa aconteceu depois daquele dia e eu só escrevia quando era exigida alguma atividade. Eu sempre gostei de criar histórias e sendo bem sincero eu sempre tive muita preguiça em escrever. Hoje eu sinto mais facilidade em escrever ao invés de simplesmente falar, não que eu seja um José de Alencar, é só que na escrita a gente pode planejar mais e ter mais tempo para pensar em cada palavra. Concorda comigo?




Importante lembrar também do meu contato inicial com a leitura. Meu primeiro livro completamente lido foi o incrível “A Formiguinha e a Neve”, eu desenvolvi uma espécie de obsessão por ele, todo recreio eu lia o mesmo livro e devo ter feito isso por vários dias seguidos. Por que eu fiz isso? Porque eu era maluco! E ainda sou um pouco.
Lembro de um livro de poesia e contos fantástico que achei na “sala de leitura” da escola, dentre várias poesias uma era especial para mim, chama-se “O príncipe feliz” (Se tiver um tempinho click no link e leia também) como eu imergi nessa história e surpreendentemente ela me marcou a ponto de eu ainda lembrar fragmentos de emoções que eu senti ao ler pela primeira vez. As pequenas poesias e contos me encantavam, pois eram tão pequenos e tão significativos.



           Quando eu estava mais crescido passei a ler um pouco de Júlio Verne e como o livro me viciou, eu não via a hora de chegar da aula me deitar na cama e continuar de onde parei. Não se engane isso não era um comportamento nem um pouco comum vindo de mim, eu estava numa fase que lia muito pouco e as histórias de Verne resgataram um pouco da minha paixão adormecida pela leitura.
Repare que comecei o texto falando em escrever e bruscamente citei a leitura. Propositalmente, pois a leitura e a escrita estão de mãos dadas e dificilmente você pode separar esses dois “atos”. Ler é muito bom e escrever é tão bom quanto. Se você gosta de ler, a escrita irá se tornar um processo natural e eu tenho certeza que você vai gostar bastante. Se você gosta apenas de escrever você encontrará na leitura forças para melhorar suas ideias, aprender mais e potencializar mais o seu talento. Se você não gosta nem de ler e nem de escrever nunca é tarde para construir um hábito, e que hábito extraordinário.




Já conheci pessoas que insistem em dizer: “eu não sei escrever”, “não nasci para isso” e a elas eu respondo: eu também não. Eu acredito que o talento é algo que vai sendo lapidado com o tempo, obviamente nós temos notícias de casos excepcionais de pessoas que tem mais facilidade, mas até elas precisam desenvolver esses talentos. Você também pode desenvolver esse talento, acredite um pouco em si mesmo por mais que ninguém acredite.
Devo admitir que escrever, muitas vezes, é um ato solitário e pode se tornar cansativo num primeiro momento. Todavia o processo é incrível, criar uma história é como voltar a infância e sentir de volta aquela liberdade de ter um palito na mão e fingir que ele pode se tornar uma espada. Quando você começa a escrever você se surpreende com si mesmo e percebe o quanto sua mente é poderosa. Usa essa cachola!




Para tentar deixar mais claro vou citar alguns motivos, segundo a minha opinião, que te motivará a escrever.

1 – Escrever te torna mais livre: Nós sabemos que a realidade às vezes pode machucar um pouco, mas na sua história você pode modificar um pouco essa realidade e torná-la mais interessante. Não que isso te faça fugir do mundo real, porém isso pode te ajudar a ver um problema de outras formas.

2 – Você pode se livrar de sentimentos ruins: Escrever sobre seus problemas e angústias como num diário pode até te ajudar a extravasar um pouco, pois nem sempre temos um ombro amigo para desabafar e como pensou sabiamente Anne Frank: “O papel tem mais paciência do que as pessoas”.



3 – Te ajuda a se concentrar mais: Sim, escrever exige muita concentração e não raro já passei várias horas para escrever pouco mais de quatro parágrafos. Melhor do que Ioga ou algumas terapias que você encontra por aí. Você exercitará sua paciência e isso é ótimo para sua saúde.




4 – Te ajuda a escrever melhor: Principalmente se você também ler, você vai perceber que suas ideias estão sendo melhor expressas. Não precisa está relacionada a uma redação ou prova de conhecimentos, mas a simplesmente postar uma foto linda no instagram e produzir aquele texto igualmente lindo para combinar. Pode parecer uma coisa boba, mas faz muita diferença.




5 – Você pode tocar corações: Não literalmente, a menos que você seja um cirurgião cardiovascular. As palavras provocam muitos sentimentos nas pessoas e você pode usar isso de forma muito carinhosa com uma pessoa que você ama. Escrever um poema simples para sua esposa, amigos e familiares pode trazer muita alegria. Experimente.




6 – Exercita seu cérebro: Nosso corpo é incrível e Deus nos deu para que possamos usá-lo da melhor forma possível. Exercitar nosso cérebro é cuidar dele também.




7 – Escrever independe da sua classe social: Rico ou pobre, mendigo ou milionário qualquer um que tenha um conhecimento básico de português ou até mesmo seja analfabeto pode criar uma história. É muito mais interessante escrever suas próprias histórias, mas eu creio que todas as pessoas possuem criatividade para produzi-la. O grande desafio é começar a usá-la com frequência.




8 – Você não precisa de muito dinheiro: É claro que o mínimo já ajuda, um lápis e uma folha de papel, mas no geral escrever não é um hobby caro. Caso tenha algumas ferramentas tecnológicas como celular e computador melhor ainda. Existem editores de texto gratuitos e até onlines para computadores e celulares. Você pode brincar com as fontes de texto e até produzir sozinho seu próprio livro.




9 – Escrever é surpreendentemente divertido: Sem nenhum exagero, escrever pode ser tão divertido quanto jogar videogame. No videogame você geralmente controla um personagem vivendo uma história específica e na escrita você pode controlar o tempo, a cor da roupa, a altura, o humor e o que quiser dos seus personagens e ambientes. É como montar legos imaginários ou desenhar.




10 – Você não precisa de diploma: Escrever é uma arte democrática, você não precisa estudar literatura ou ser o professor Pasquale para produzir suas próprias obras. O Dr. h. c. mult. (Doutor honoris causa multiplex) Patativa do Assaré memorizava seus cordéis e criações. Um “doutor sem saber ler” criava a mais pura arte através da sua voz; não tinha Iphone, Samsung ou um PC com o word instalado, não precisou de lápis e nem papel para compartilhar suas obras e encantar seus leitores ou ouvintes.




             Certamente não seria difícil citar muitos outros motivos, mas espero que estes poucos sejam o suficiente para lhe aguçar a curiosidade. O contato com a leitura e escrita certamente ajudou a formar meu caráter, me ensinou a ter paciência em alguns momentos e a escutar mais as pessoas a minha volta. Não podemos dizer que não somos capazes e que simplesmente não sabemos algo, isso nos limita e vai ter um momento que até nós vamos acreditar nisso. Melhor seria se você dissesse isso: “eu não sei escrever, mas ainda assim sou apaixonado pela escrita”. Ou “eu não sei desenhar, mas ainda assim continuo desenhando”. Ou “Eu tenho preguiça de ler, mas não posso viver sem a leitura”.
Todos nós somos limitados, mas cada um de nós podemos ser geniais a nossa maneira. Não precisamos de aplausos para continuar escrevendo. A única coisa que verdadeiramente precisamos é continuar escrevendo.



sexta-feira, 12 de maio de 2017

O homem destruído


Existia um homem ciborgue conhecido como R3-D3. Um dos seus hobbies favoritos era passear a noite na praia e molhar os pés com a água do mar. Gostava também de sentir a brisa gélida em sua pele artificial. Numa de suas muitas caminhadas recebeu um telefonema de seu dono:
- Está me ouvindo R3?
- Pois não mestre Brankley? – Respondeu prontamente.
-Boas novas. Você está oficialmente livre!
- E o que devo fazer senhor? – Indaga R3.
- Bem, a partir de agora é com você. Seus serviços já foram demasiadamente úteis para minha família. – Respondeu o senhor de voz pacífica.
R3-D3 há muito tempo havia pensado sobre a liberdade. Quando chegou o momento de descobri-la por conta própria uma simulação de medo tomava conta de sua central neural.
Vencendo o medo inicial o organismo vagou durante décadas. O único padrão nesses locais dos quais passava era a presença de praias. De alguma forma para R3 observar a imensidão do mar possibilitava uma maior proximidade com o “jeito humano de sentir”.
Certo dia R3 percebia a luz da lua levemente mais clara, perguntava-se, como se quisesse enganar-se, quem tinha criado. De fato, o ciborgue armazenava em seus circuitos milhares de terabytes de informações, para ele tal indagação não fazia sentido nenhum.
Perto dali uma ciborgue modelo L4 fêmea, aproximou-se e perguntou:
- Está perdido?
- Não, sou apenas um ciborgue errante. – Respondeu admirado com o design futurista de L4.
- Então você fugiu de seu dono?
- Não, receio que essa falha nem seja permitida em modelos antigos como o meu.
- E qual o seu modelo? – Pergunta a ciborgue em modo de curiosidade.
- Pertenço a décima geração.
- Hum, um pouco ultrapassado, mas ainda popular.
Estas últimas palavras parecem ter provocado um efeito negativo sobre R3-D3. Ainda assim acha interessante manter a conversa com a ciborgue:
- E qual o seu modelo? – Indaga R3.
- Décima segunda geração. – Responde L4 sem muito entusiasmo.
- Curioso. Suas peças devem ser valiosas.
- Obrigada, mas só os humanos dão extrema importância para os valores.
- Talvez eu também dê importância. – Complementa R3 com tom sério.
L4 estava sentindo uma simulação mais forte do que a de alegria que vinha instalada de fábrica em seu organismo cibernético. Parecia-lhe uma simulação totalmente diferente.
Durante certo tempo L4 e R3-D3 andaram a noite na praia e conversaram sobre assuntos deveras simples. Para quem os observasse de longe poderia comparar os dois a um casal adolescente.
R3 provocava na ciborgue simulações cada vez mais complexas o que deixou o organismo fêmea totalmente viciado em sua companhia. Percebendo a sua completa entrega R3 convidou-a para conhecer outras praias. Citou de forma clara o termo “fugir de tudo”.
No começo L4 estava relutante, mas percebeu que já não mais poderia existir sem R3-D3. A ciborgue rompeu com a criptografia de sua programação e fugiu com o ciborgue.
Num dado momento andando numa praia a ciborgue revelou:
- Meu R3, o antigo dono às vezes andava de mãos dadas com sua esposa. Nunca entendi muito bem o que isso significava, mas agora ao seu lado venho sentindo o desejo de juntar meus dedos aos teus. - R3 assentiu com a cabeça e sorrindo deu sua mão direita para L4.
Mais tarde foram a praia e R3 convidou L4 para sentar na areia. Sentou-se atrás dela e abraçou-a na altura de sua cintura. Sussurrou:
- Desculpe-me. – Partindo-a ao meio.
Tudo ocorreu numa fração de segundo. L4 sequer pôde perceber que estava despedaçada. R3 tirou o microchip responsável por simular emoções da cabeça da ciborgue e implantou em si mesmo. Enterrou as peças de ciborgue destroçada na areia.
Olhou para a lua, pôs a mão no peito e disse para si:
- Não funcionou.

Levantou-se, entrou no mar e quando o sol nascia no horizonte R3-D3 já havia deixado de existir.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

E se Pokémon tivesse se inspirado no Brasil?


Sim, eu pensei nisso e resolvi criar uma Hq (vulgo história em quadrinhos) para brincar com essa ideia. A história se passa numa periferia qualquer e o protagonista é o pequeno Lequinho Brown. Os Pebámons (como são chamadas as criaturas) tem um aspecto um tanto quanto realista (haha!). Já "produzi" algumas páginas desta obra de arte, além é claro desta capa do balaco-baco. Você pode conferir o resultado preliminar clicando neste link.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Eustaquinácio #1


ATENÇÃO: para um maior deleite visual abra em nova guia e dê zoom.

FELICILÂNDIA




Na cidade de Felicilândia localizada no nordeste brasileiro o prefeito através de plebiscito propôs eliminar um sentimento humano: a tristeza. Quando a lei foi aprovada os otimistas saíram às ruas para comemorar. Em contrapartida os depressivos, ou pelo menos alguns deles, saíram às ruas para demonstrarem sua insatisfação com a nova lei.
Os argumentos a favor da lei diziam mais ou menos o seguinte: “A tristeza já é um sentimento obsoleto para os seres humanos. A tristeza torna o homem débil, confuso, frágil. Não fazemos nada quando estamos tristes, o otimismo e a alegria é quem verdadeiramente movem as boas ações. ” E como não podiam ficar de fora os depressivos rebatiam: “A tristeza torna o homem mais humilde. A tristeza possibilita ao homem refletir sobre suas próprias ações. Como poderíamos reparar os criminosos se proibíssemos de manifestarem a tristeza de um arrependimento pelo crime cometido? ”.
Após meses de intensa discordância entres os grupos a favor e contra, a lei foi sendo absorvida lentamente pela sociedade. Nas ruas os Patrulheiros da Alegria aplicavam multas altíssimas a menor suspeita de tristeza. O governo criou até o chamado Disque Tristeza (cujo número era 187-478-392), foram várias denúncias de vizinhos incomodados pela tristeza alheia.
Depois de um ano de aplicação o governo da alegria, encomendou ao IBGA (Índice Brasileiro de Geografia e Alegria) que levantassem os índices da população para avaliarem como a sociedade lidou com a nova lei. O resultado não poderia ser mais animador, os índices de criminalidade caíram em 90%, 90% dos presos estavam sendo liberados por bom comportamento, os níveis de depressão reduziram 90% e os índices educacionais aumentaram 90%.
O atual presidente dos Estados Unidos, Mark Zuckerberg, enviou os melhores pesquisadores da Universidade de Harvard, Stanford e várias para estudarem o fenômeno. Enviou antropólogos, psicólogos, psiquiatras, engenheiros sociais e pessoas de confiança para prepararem um incrível relatório sobre a cidade de Felicilândia.  
O relatório encomendado pelos E.U.A rendeu vários anos com pesquisas em campo, entrevista com o prefeito de Felicilândia e os políticos que aprovaram a lei que proibia a tristeza. O relatório finalmente foi entregue a Casa Branca e numa reunião Zuckerberg não acreditou nos resultados. De uma maneira simplificada e extremamente reduzida os dados demonstravam a seguinte conclusão: “Declaramos que de fato os dados apresentados pelo governo brasileiro relativos a redução da criminalidade, menores índices de depressão, melhoria educacional, dentre outros são legítimos. O relatório, porém, torna-se inconcludente quando analisa a proibição de um sentimento tão importante quanto a tristeza e suas aplicações nas relações interpessoais. Não sabemos o motivo de tanto sucesso de uma lei como essa. ”.
Passaram-se uma década e o antigo prefeito de Felicilândia tornou-se presidente do Brasil. Com o slogan de sua campanha “Eliminando a tristeza melhoraremos o Brasil”, atraiu muitos fãs anônimos e influentes que lhe apoiaram e possibilitaram a aplicação da lei em nível nacional.
Nessa altura o atual presidente, Elon Musk, incentivou a criação de microchips implantáveis para eliminação neural da tristeza. O que dentro de pouco tempo tornou-se um fracasso absoluto, pois as pessoas começaram a largar empregos, família para simplesmente aproveitar a vida. O índice de criminalidade aumentou absurdamente, pois não existia mais remorso dentre a população.
Os E.U.A em decadência deixou de ser a maior potência do mundo dando espaço a nação brasileira. O Brasil tornou-se os Estados Alegres do Brasil e o português em pouco tempo tornou-se a língua mais falada do planeta, nas escolas de todo o mundo o português era o segundo idioma ensinado. Os filmes de hollywood perderam popularidade e as novelas brasileiras tornaram-se famosas no mundo inteiro.
Nem os mais conceituados pesquisadores puderam afirmar com exatidão o que fez os Estados Alegres do Brasil sair de um país emergente para uma potência mundial. As grandes potências Ocidentais e Orientais tentaram aplicar as suas leis de proibição a tristeza, mas nenhuma delas obtiveram grandes avanços como no Brasil.
O presidente dos Estados Alegres do Brasil governou até o último dia de sua vida, porém a população brasileira não o viam como um ditador. O país passou a idolatrá-lo como líder nato e salvador da pátria e o dia de sua morte tornou-se um importante feriado, talvez mais representativo do que o dia da independência.
Anos depois da morte do presidente foi anunciado pelos E.U.A um documento escrito de próprio punho pelo líder e salvador brasileiro. Documento que foi desacreditado pela nação brasileira e creditado como “inveja norte americana. ” Eu, porém, ao contrário de tantas pessoas, posso afirmar que de fato o documento é verdadeiro.
Meu pai deu-me secretamente um bilhete escrito com letra trêmula antes de morrer dizendo-me: “Faça o que julgar acertado com este escrito. Aqui escrevo a minha verdade. ” Divulguei o escrito e fui condenado como “inimigo imperdoável” da pátria, fui exilado e atualmente moro nos E.U.A. onde trabalho como terapeuta voluntário da associação de jovens infratores na igreja e vendedor de pipoca. Apesar de tudo tenho uma vida bastante feliz. Deixo a quem interessar as últimas palavras de meu pai, o presidente e salvador da pátria brasileira:
Alguns dizem que eu salvei meu país, chamam-me de gênio, líder nato, intelectual. Porém devo dizer que nada disso me considero. Minha esperteza, porém, vem do meu discurso cativante e salvífico. Eu fiz todos crerem numa grande e bem contada MENTIRA! Discursei para multidões desesperadas que de tanto aprenderem a desacreditar acreditaram numa mentira boba; a, de que é possível viver sem tristeza. Nosso povo continua triste, a saúde continua péssima, a educação piorou, apesar de termos a melhor economia, mas para os tolos o que vale são apenas os dados ou quais divulgamos para o mundo. Sonho com o dia que todos se darão conta de que estão agindo como marionetes e que a tristeza apesar de proibida está fortemente impregnada na nossa sociedade. Mesmo aprovando uma lei que proibia a tristeza é ela que me motiva a escrever estas últimas palavras. “
De: Jorge Feitosa Emanuel Silva
Para: Meu filho e a todos os tolos que em mim acreditaram.          
    

FIM

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Gifs engraçados de animais

Os animais são criaturas imprevisíveis e por isso nos proporcionam momentos engraçados. Muitas vezes vemos coisas tão absurdas que se formos contar para alguém ela provavelmente não acreditará, mas felizmente a internet está aí para nos deliciar com a sua bobeira e momentos divertidos. Então, larga essa tristeza e aproveite os Gifs:



1 - ENTRADA ESTILOSA 




2 - EU RI DISSO



3 - AQUELE MOMENTO EM QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE SE ENCONTRAR



4 - NÃO CULPEM O CAVALO



5 - QUANDO AQUELA SENSAÇÃO DE CAIR NO SONHO SE TORNA REAL DEMAIS



6 - VALEU A TENTATIVA



7 - FELIZ É QUEM SE DIVERTE COM POUCO



8 - TÉDIO



9 - SOCORRO!



10 - ESTA É A SUA CARA QUANDO VOCÊ ESTÁ DORMINDO



11 - NUNCA SUBESTIME UM GATO



12 - INTRUSO



13 - NÃO RIA















sexta-feira, 5 de maio de 2017

O Sentido do Tempo


2010, numa grande cidade vivia um rapaz com grandes sonhos. Arys estudava música numa conceituada universidade do país, havia ganhado uma bolsa concedida somente aos excepcionais. Ele queria se tornar um grande maestro da Orquestra Internacional de Paris. Treinava todos os dias: domingos, sábados e feriados. Seus dedos já estavam calejados de tanto esforço, mas para o jovem estudante todo cansaço era ínfimo diante da sua ambição; “ser o melhor”.
Para se tornar um grande músico treinava mais de sete horas por dia. Em seu quartinho no centro da cidade, debruçava-se em livros de partituras repetindo as notas de composições clássicas ou mesmo criando suas próprias peças. Uma vida cansativa para quem exige muito de si mesmo, mas não infeliz para um músico.
Numa manhã há dez anos atrás, por acidente, acordou tarde para sua aula de composição musical criativa avançada, a disciplina que ele mais amava. Enfurecido jogou contra a parede o despertador que julgou ser culpado por seu atraso e sem tomar banho pôde acompanhar os últimos trinta minutos da aula. Quando chegou em casa percebeu um celular despedaçado pelo seu pequeno cômodo conhecido como seu lar.
Não tinha dinheiro para comprar um novo “despertador” ou o que a maioria das pessoas, menos Arys, chamam de celular. Lembrou-se então que perto dali morava sua ex-namorada que era rica Amanda, namoraram por alguns anos, porém Amanda terminara a uns três meses. No fundo Arys queria um pretexto para reencontrar a sua ainda amada Amanda. Claro que Arys pagaria assim que recebesse seu salário, era apenas um empréstimo.
Chegando lá tocou a campainha da bela casa dos pais de Amanda, ela o atendeu. Muito surpresa deu um abraço em Arys e lhe fez perguntas genéricas como “como você tá? ”. Enfim Arys teve coragem e revelou seu objetivo secundário:
- Então, na verdade, eu vim pedir emprestado...vim perguntar se você poderia me emprestar...é... – Suando frio e com nó na garganta.
- Dinheiro? – Amanda interrompe.
- Sim, mas é emprestado, eu juro que assim que puder eu pago. – Diz Arys coçando a cabeça.
Amanda pareceu surpresa e perguntou se ele estava passando por dificuldades. Arys negou tudo e revelou que só queria ter um pretexto para ver Amanda. Após alguns minutos de boa conversa, Amanda foi em casa e pegou o dinheiro. Educadamente ela diz:
- Bem, você se lembra que eu quebrei seu violino e que nunca paguei pelo conserto ou comprei um novo. – Arys simplesmente riu e falou de forma sincera:
- Aquilo foi um acidente eu nem lembrava mais.
- Mas eu não esqueci, considere minha dívida com você paga. – Diz em tom de brincadeira.
Os olhos de Arys ainda brilhavam quando cruzavam com o olhar de Amanda. Em sua cabeça queria convidá-la para um novo recomeço. Tudo aconteceu muito rápido, os dois não tiveram tempo de se despedir. Amanda disse boa noite e se despediu, Arys fez o mesmo e hesitou. Já se afastando da casa se lembrou das palavras de seu professor sobre a vida: “Às vezes nós devemos ter coragem de nos arriscar, não podemos simplesmente deixar uma chance passar. Vocês como futuros músicos devem ser os primeiros, pois lidam com uma arte caótica e complexa como a música. Tem que ter pulso firme para lapidar sua arte e pulso firme para aproveitar as dificuldades. ”
Arys deu meia volta e decidiu que convidaria sua amada para o cinema, esqueceu que não tinha dinheiro nem para a pipoca, mas não existe razão nas coisas feitas com o coração. Antes de tocar a campainha, vindo do interior da casa, ouve palavras que perfuram como uma espada em chamas o seu coração:
- ...deu vergonha, mas é claro que o cretino veio cobrar o violão idiota que eu quebrei. Você não vai cobrar essa merreca de mim se a gente terminar né?!
- Eu tenho dinheiro gatinha.
Confuso e meio tonto Arys jogou o dinheiro por baixo da porta e saiu desolado. No caminho para casa lembrou-se de uma outra frase de uma professora da quarta série: “A vida não é um mar de rosas. Não dá para brincar a semana toda e querer tirar dez na prova de matemática. Você vai se dar mal. ”
Sem despertador e sem dinheiro Arys resolveu fazer algo que detestava, pedir dinheiro a sua mãe. Preocupada evidentemente sua mãe deu seu cartão de crédito e disse que poderia comprar até roupas se quisesse. Ele planejava pagar no mesmo dia que seu salário fosse liberado.
Ele dirigiu-se a uma loja escondida, mas aconchegante chamada Tecno Tempo. E pediu ao vendedor um celular bom, barato e que tivesse despertador. O vendedor, com um sotaque que Arys não conseguia identificar, falou-lhe:
- Pois bem na Tecno Tempo, nós temos produtos inimagináveis. Aqui os sonhos se tornam realidade e você sempre sai satisfeito. – Surpreso com a resposta, Arys pôde apenas falar:
- Ok, que celular você me recomenda?
Com os olhos arregalados e um sorriso extremamente excitado, aponta para um celular no fundo da loja. O Zi-fone apesar de disfarçado estava num mini pedestal de vidro, sua cor amarela chamava a atenção e seu preço era de aproximadamente 300 dólares. Incomodado Arys questiona:
- Não está meio caro? – Rapidamente o vendedor retruca:
- Acredite em mim ele está infinitamente barato para suas funções. Esta é uma edição limitadíssima, poucos no mundo têm a sorte de possuí-lo.
Para se livrar do papo do vendedor esquisito Arys paga com o cartão de sua mãe e vai para sua casa. Era por volta de dez da noite quando chegou, preparou uma comida rápida e ensaiou durante algumas horas. Às três foi para a cama e tirou o celular da caixa para programar o despertador. Estranhamente o celular já mostrava o horário certo e apenas isso. Não tinha nenhuma outra função a não ser mostrar o relógio, Arys não acreditou e imaginou ser um defeito de fábrica. Pôs o celular de lado e dormiu.
No outro dia acordou profundamente relaxado e descansado o que o fez pular da cama, pois achava que estava muito atrasado. Seu pequeno quarto não tinha janelas e não podia julgar o quão tarde seria. Lembrou-se que apesar de inútil o celular ainda marcava a hora certa. Ainda ensaboado foi ver o quão grave era o seu atraso. O celular estava marcando a mesma hora no momento em que ele foi dormir, o jovem estudante conteve-se para não atirar outro celular pela parede.
Vestiu-se e saiu apressado para sua aula das nove, seja lá que horas eram. O corredor do apartamento onde morava estava escuro e silencioso algo incomum, pois pela manhã ouvem-se barulhos de máquinas de construção, carros e pessoas na rua. Não deu muita importância e saiu. Para sua surpresa ainda era madrugada.
Já faziam seis horas desde que Arys acordara, estava sentado na cama tentando se lembrar se teria sido dopado na noite anterior. Não conseguia pensar direito e achou que estava enlouquecendo. O silêncio era perturbador e já podia escutar os fluídos de seu corpo e seus batimentos tal como gritos ensurdecedores.
Dez horas se passaram e Arys já gritava por socorro definitivamente estava louco. Saiu pelo corredor batendo nas portas dos vizinhos pedindo ajuda. Ninguém se manifestava. Numa atitude desesperada arromba uma porta e se depara com uma cena bizarra.
Corre para o seu quarto e se tranca. Tremendo e suando frio se recolhe repetindo para si:
- Isso é apenas um surto, não é real, não é real! Quando isso passar vou procurar um psiquiatra e tudo vai ficar bem.
Arys lembrou-se do que sua mãe dizia quando acordava assustado de um pesadelo: “Calma, foi só um pesadelo. Sua mente é mais forte que tudo isso. ” Lentamente foi acalmando-se respirando mais pausadamente. Um barulho estridente como de um toque de celular ecoa em sua cabeça tão forte que chacoalha seu cérebro.
O Zi-fone estava tocando. Para aliviar a dor em sua cabeça o jovem assustado atende. Uma voz familiar fala do outro lado da linha:
- Você deve estar surtando agora, foi o que aconteceu comigo. Não se preocupe, você se acostuma com o barulho com o tempo. Devo dizer que o tempo agora passa a ser seu, você não pode avançá-lo ou retrocedê-lo, apenas pará-lo. Use-o com sabedoria, você foi a primeira pessoa que eu falei depois de muito tempo. Adeus. – A ligação é interrompida por um forte ruído.
Ainda mais confuso Arys acredita que tudo aquilo não passava de uma terrível e realista alucinação. O horário marcado no celular volta a correr. Do corredor escuta-se o grito de um vizinho.
- Mas que... colocaram uma bomba na minha porta!
Aquela tinha sido uma experiência assustadora. E a primeira pessoa com quem falou sobre o que tinha acontecido foi com a sua mãe Lúcia. Inicialmente sua mãe deduziu que seu filho tinha usado algum tipo de droga na noite anterior ficando bastante preocupada. Arys negou com veemência as suspeitas da mãe.
Após alguns dias sem entender o que tinha ocorrido Arys não frequentava mais as aulas na universidade de música e não tocava mais como antes. Lúcia percebeu que precisava ajudar seu filho:
- Me conta o que aconteceu. – Lúcia indaga com expressão preocupada. Com os olhos baixos Arys responde:
- Eu já te contei tudo. Mas sei que é difícil de acreditar.
Mais tarde Lúcia decide levar seu filho para um psiquiatra, em seu carro. Muitos acontecimentos após aquele dia mudaram profundamente Arys.
Após sessões de psiquiatria ele percebeu que não podia arrancar a angústia que sentia no peito. Os remédios que usava não surtia qualquer efeito. Resolveu entender a história por conta própria.
Entrou no seu antigo apartamento e recolheu o celular, guardou-o na embalagem e dirigiu-se até a loja para devolvê-lo. Arys queria provar para si mesmo que era mais forte do que qualquer problema em sua mente. Devolver o celular seria um ato simbólico que mostrava que ele estava no controle. Chegou na loja, mas só encontrou escombros sendo retirados por tratores. Assustado perguntou a um morador:
- O que aconteceu aqui?!
- Um maluco entrou aqui e se explodiu com a loja. – Respondeu o homem.
- Porquê?! – Pergunta o jovem com expressão assustada.
- Terrorismo, está em todos os jornais, você não assiste TV?
Após algumas pesquisas na internet, Arys soube que o terrorista se tratava de um ex-funcionário da loja, o mesmo que lhe vendera o celular dias atrás. Percebeu que se continuasse com isso enlouqueceria de vez, voltou para sua casa e retomou para suas aulas na faculdade.
No primeiro dia que voltou a universidade seus amigos o encheram de indagações, Arys não falou tudo por medo que fosse tachado de louco. Seus amigos ficaram tristes e ofereceram ajuda. Arys insistia que tudo estava bem.
Na aula da tarde uma amiga perguntou-lhe:
- Que horas são?
- Não tenho relógio.
- Então usa esse seu tijolo amarelo!
Arys volta o olhar para dentro da sua bolsa aberta e percebe que no impulso havia guardado o Zi-fone por engano. Sua amiga pressionou:
- Custa dizer a hora?!
Seu coração acelerou ao pensar o que aconteceu da última vez que tocara no celular. Hesitou. A amiga continuou:
- Meu Deus, você está com uma expressão de maluco.
Ao ouvir estas palavras tomou coragem e pegou o celular dizendo:
- São catorze e... – O jovem caiu da cadeira assustado.
Os alunos da sala estavam completamente paralisados. O que Arys mais temia aconteceu de novo. Tentou manter a calma, mas sem sucesso. Nervoso, tocou o celular e seus amigos voltaram ao normal. Ele só podia pensar o quão esquisito era seu transtorno e parou e retomou o tempo durante algumas vezes. Até que tiros foram ouvidos e um aluno passou gritando:
- Terroristas! Fujam!
Todos entraram em pânico e se esconderam debaixo da cadeira. Estava silencioso e passos podiam ser ouvidos do corredor. Lentamente se aproximavam. A porta foi fuzilada, mas antes que pudessem entrar, num comportamento quase instintivo Arys tocou a tela de seu Zi-fone e parou o tempo.
Após respirar fundou saiu de baixo de sua mesa e viu as várias balas congeladas, podia tocá-las e movimentá-las como uma peça de lego. Desviou uma bala que estava a pouco menos de dez centímetros da cabeça de um aluno apavorado.
Saiu da sala e percebeu que por volta de vinte homens estavam se aproximando da sala, eram como bonecos de cera hiper-realistas, estavam fortemente armados e usavam equipamentos de combate, com coletes a prova de balas, capacetes e máscaras. Arys afastou-os e tirou-lhes as armas e equipamentos.
Andou pela universidade atrás de mais homens como aqueles. Em todo o lugar que olhava, podia ver que o tempo não avançava em relação aos pássaros no céu, as formigas na grama.
Viu que a porta do banheiro masculino estava arrombada, lá dentro haviam dois homens com a mesma vestimenta um apontava sua metralhadora para fora enquanto o outro com o gatilho apertado parecia disparar contra um aluno, a pólvora já explodia pelo cano e a bala estava parada no ar.
Para sua surpresa Amanda sua ex-namorada e um cara com físico atlético estavam apavorados dentro de uma cabine do banheiro. O rapaz estava sem camisa e segurava Amanda como se estivesse protegendo-se do homem armado, parecia chorar desesperadamente. Amanda estava chorando e vestindo um sutiã rosa e com a maquiagem borrada, o cabelo loiro totalmente assanhado. Arys salvou a vida dos dois.
Após várias horas Arys desarmou todos os homens e amarrou-os colocando numa sala com uma placa escrita à mão com os dizeres: “Eu capturei todos, não sei explicar exatamente como fiz isso, mas fiz o que é certo. ” O rapaz deixou as armas e coletes quebrados em frente a sala que os homens estavam.
Após esse ato acidentalmente heroico o jovem percebeu que o celular não era somente algo da sua imaginação. Não demorou para entender seu potencial destrutivo e o motivo de estar sendo caçado. Voltou para casa pegou o que podia e partiu. No fundo era o que ele realmente queria, fugir de tudo.
Numa outra cidade simplesmente pegou uma chave e dormiu num hotel cinco estrelas. Tecnicamente ele não havia roubado, pois não passou tempo nenhum no hotel. Assim foi vivendo durante meses até que recebeu uma ligação do hospital. Depois de ouvir as palavras decidiu parar o tempo tocando no seu Zi-fone.
 Não podia viajar o mundo como planejou, pois, todos os aviões estavam parados. Decidiu que ia conhecer somente seu país. Viajou por várias cidades, estados e foi percebendo que estava começando a se esquecer de quem era. Às vezes repetia seu próprio nome em voz alta para não o esquecer. Não sentia mais fome, sede, frio ou sono. Noutras palavras estava tornando-se imortal.
Passaram-se seis anos desde que Arys havia congelado o tempo, seus olhos já não tinham mais expressão. Andava por desertos vagando, perdera a capacidade de falar. Tinha visões com uma criança brincando num jardim, ouvia um piano, e um homem brigando com uma mulher.
Uma vez viu algo em movimento andando pelo deserto, um fantasma do antigo dono do Zi-fone, o vendedor. Seu cérebro ignorou, pois já estava se esquecendo o que era movimento. Instintivamente seguia a luz do sol. Havia esquecido seu nome, sua vida, quem era ou o que estava fazendo.
Alguns anos depois encontrou uma criança pequena brincando no deserto. O homem ignorou-a, mas ela começou a brilhar mais intensamente que o sol. Como uma mariposa segue a luz, ele seguiu a criança. Andaram por vários anos até que chegou numa cidade.
Ao chegar na cidade a criança brilhante andava entre os carros e pessoas paradas seu brilho estava se apagando e Arys quase sentia uma fagulha de tristeza. Muito lentamente estava tornando-se humano novamente.
Arys foi percebendo que estava reconhecendo a criança que já não era mais tão brilhante assim. Quando pôde pronunciou estas palavras:
- Quem ser você? – A voz falhando. A criança respondeu:
- Uma parte de você. – Arys insistiu:
- Quem ser eu?
- Uma parte de mim. – Respondeu a criança sorrindo.
- Não entender. O que ser eu? – Insiste Arys. A criança revela:
- Nosso nome é Arys.
Imediatamente depois um turbilhão de pensamentos surgiu em seu cérebro. Seu primeiro beijo, sua cor preferida, as partituras que havia decorado, o abraço de sua mãe, a rejeição de seu pai. De alguma maneira milagrosa Arys voltou a si e lembrou-se do verdadeiro motivo de ter fugido.
Foi até o hospital e viu sua mãe sendo ressuscitada pelos enfermeiros, as imagens do acidente de carro voltaram a sua mente. Arrependeu-se de ter insistido em se consultar com um psiquiatra, pois mesmo depois do acidente de sua mãe os remédios de nada serviam. Tentou ter uma vida normal enquanto sua mãe estava em coma, mas congelou o tempo quando recebeu a ligação do médico ao saber que ela estava morrendo.
Arys se deu conta de que o peso de escolher quem vive e morre não deve ser dado a nenhum homem.  É um fardo que ninguém pode aguentar. O jovem e promissor músico compôs uma última canção chamada: “O soneto para Lúcia”.  Apenas ele pôde ouvir.
Antes de morrer lembrou-se da frase que ouvira de sua mãe na noite em que seu pai foi embora:
- Sabe Arys, a vida às vezes é dura e sem sentido. Acho que é por isso que eu escolhi a música. Quando eu toco piano, eu posso fugir um pouco dela e viver no meu belo mundo, mas é quando eu toco com você que esse mundo se torna completo, sem dor, choro ou angústia. Seu pai foi embora, mas enquanto eu estiver viva eu vou te amar para sempre.
Arys se arrependeu de parar o tempo e percebeu que ele só faz sentido quando se gasta com alguém que se ama.
Sentiu o último suspiro de sua mãe e sorrindo desapareceu.
FIM