Ihugs
Daniel
Victor
Numa
rica metrópole vivia um milionário do ramo de tecnologia. Conhecido
pela excelência de seus produtos bem como os seus valores
exorbitantes. Seu nome era Estevão Jorge, vestia sempre a mesma
roupa para causar impacto.
Num
belo dia sua empresa faliu, pois uma crise financeira eclodiu no
mundo. As pessoas antes preocupadas com os produtos "Idolar"
não sabiam se semana que vem teriam feijão para colocar no arroz.
Jorginho ficou desolado, antes gabava-se, pois era um líder de uma
multinacional agora não é respeitado nem por seu cachorro Bily.
Com
o passar dos anos a crise foi se apagando, mas as sequelas para
Estevão foram irreversíveis, sua namorada bonitona trocou-o por seu
rival Bento Greyson. Sua mansão atolada em dívidas foi tomada pelo
governo forçando Estevão Jorge a morar debaixo da ponte. Até Bily
preferiu viver uma vida boa ao lado da namorada bonitona.
Jorge,
empreendedor até na miséria, arranjou um modo peculiar de conseguir
uns trocados: vendia cobertores personalizados para outros moradores
de rua (vulgo mendigos). Enquanto seus vizinhos de rua iam pedir
esmola pela manhã, nosso homem de visão preparava jornais com
notícias personalizadas para vender quando todos chegassem.
O
pedaço de jornal ou “Ijournal”
(como preferia chamar) mais vendido por Estevão era aquele que vinha
com a previsão do tempo incluso. Alguns reclamavam quando a previsão
errava, porém o hábil empreendedor afirmava que não respondia pelo
pessoal técnico. Ousou até mesmo criar um sistema de assinatura
semanal, na qual, os mendigos pagavam um real para terem direito a
escolha ilimitada de modelos de Ijournals.
Estevão
Jorge conseguiu evoluir nos negócios. Montou uma empresa de
flanelinhas, depois contratou passeadores de cães, pipoqueiros,
abriu um restaurante, vendeu o restaurante e abriu uma empresa de
tecnologia pela internet que foi comprada por milhões, com o
dinheiro fundou uma empresa especializada em viagens espaciais para
turistas e comprou mais cinco outras empresas multinacionais e
tornou-se novamente o homem mais rico do mundo.
— Alô
Jorginho? - Diz uma voz doce e aveludada do outro lado da linha.
— Quem
é? - Responde Estevão Jorge.
— Sou
eu, Susu! Que saudades de você - Revela a ex-namorada bonitona.
— Suelem?!
- Responde pasmo.
— Sim
tchu tchuco, sou eu!
— Onde
você está o que tem feito? - Pergunta o tolo Estevão.
— Ultimamente
pensando em você.
Estevão
acabou caindo na lábia da bonitona e reatou seu namoro com ela. Deu
alguns colares de diamantes, alguns carros e até uma ilha particular
para sua amada. Algo que durou em torno de um mês até Estevão
Jorge ter perdido o posto de homem mais rico do mundo para um Chinês
do ramo de macarrão. Bily que já estava quase “best
friend forever”
de Jorginho deu-lhe uma mordida no calcanhar e foi embora serelepe
com sua dona interesseira.
Estevão
Jorge podia ter um talento prodigioso para os negócios, mas para
administrar suas relações afetivas era um desastre completo.
Com
a tristeza
de mais uma traição Jorginho entrou em depressão o que afetou
profundamente os negócios. Mais uma vez perdera tudo que tinha e
voltou para a rua, na mesma ponte onde morou a primeira vez.
Estevão
Jorge já não reagia ao mundo. Com o coração dilacerado não tinha
muita força para continuar. Mas um milagre aconteceu. Uma velinha
mendiga chamada Rosinha aproximou-se de Jorge.
— Bom
dia meu filho. - Diz a simpática velhinha.
— E
o que tem de bom? - Retruca Estevão.
— Uau,
você está péssimo. Parece até um mendigo. - Brinca Rosinha. Porém
Estevão não esboça nenhuma reação.
Sem
muito o que fazer a velhinha deu-lhe um breve abraço e saiu. A
partir daquele dia Estevão Jorge percebeu que existia algo que não
podia ser comprado, algo que qualquer criança sabe, mas que a
ganância de sua vida não deixou que ele enxergasse.
Tão
óbvio, tão clichê. O amor nunca pôde ser comprado pelo homem mais
rico do mundo, porque o amor não vale nada. O amor nasce da
gratuidade de um coração qualquer, não espera nada em troca ele
simplesmente é. É algo que sempre existiu.
Na
sua última ideia (e a mais boba) Estevão Jorge o ex renomado
milionário e atual mendigo fundou a "Ihugs", uma companhia
sem fins lucrativos que como o nome sugere distribui abraços
gratuitamente.
O
início deste novo projeto não poderia ser pior. Como não tinha
muito recurso Estevão escreveu com carvão num papelão: “Ihugs:
abraços grátis aqui!”,
porém o seu fedor espantava os possíveis clientes e durante semanas
foi na praça com o papelão ao seu lado na esperança que alguém o
abraçasse. Ninguém veio.
Passados
alguns meses Estevão Jorge estava muito doente quando um cachorro
aproximou-se, olhou desconfiado, cheirou a placa. Num ato
surpreendente Estevão ofereceu-lhe um abraço e lentamente o
cachorro se aproximou aceitando o carinho do doce mendigo.
Pouco
tempo depois Estevão Jorge morreu. Morreu triste, pois não era esse
o final que esperava de sua história, porém lá no fundo de sua
alma sentia alívio de não morrer como milionário e ter que
aguentar uma multidão de urubus esperando para devorar sua herança.
No fim das contas foi a morte mais digna que poderia ter.
Por
acaso, no dia em que Jorge abraçou um cachorro um fotógrafo de fama
internacional passava na mesma praça. Imediatamente sacou sua câmera
de última geração, escolheu o melhor ângulo e tirou a foto da sua
vida. O resultado foi tão impactante que ganhou todos os prêmios
que um fotografo era capaz, além de sua fotografia ser considerada
uma das mais impactantes da história.
A
fotografia transformou a vida do fotografo que passou a dedicar sua
vida a ONG “Ihugs”
que busca oferecer suporte, moradia, alimentação e amor aos
moradores de rua de todo o mundo.
Seu
lema é: “Ihugs,
porque o amor não vale nada.”